Ataques a escolas: estudos mostram que a divulgação de imagens e vídeos de agressores na imprensa deve ser evitada, pois pode estimular outros atentados (Foto: Reprodução)

Ficar com o coração apertado após deixar os filhos na escola não era comum entre os pais. No entanto, nos dias de hoje, esse sentimento vem tomando conta devido à insegurança. Nos últimos 20 anos, o Brasil já registrou 23 ataques em escolas, de acordo com levantamento de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Infelizmente, nesta quarta-feira (5), um atentado na creche particular Cantinho Bom Pastor, que fica no bairro Velha, em Blumenau (SC), fez mais vítimas — todas crianças. Segundo informações da polícia militar, um homem de 25 anos teria pulado o muro, invadido a creche com uma machadinha e atacado os pequenos. Até o momento, foram confirmadas as mortes de quatro alunos com idades entre 4 e 7 anos. Posteriormente, o suspeito se entregou no 10º Batalhão da PM, próximo do local.

A ampla repercussão do ataque violento toca em diversos problemas, entre eles o da violência escolar. Em entrevista à imprensa, a mãe de um aluno conta que sempre se sentiu tranquila em deixar os filhos na escola. No entanto, os últimos acontecimentos têm a deixado um pouco mais preocupada. “Depois de tantos ataques, confesso que fico apreensiva”, afirmou ela.

Não são raras as regiões onde a insegurança se torna um obstáculo a mais no já precário sistema de ensino. O caso desperta sentimento de insegurança em famílias: “Já não vejo a escola como um ambiente seguro como antigamente”, completou a genitora.

‘Efeito contágio’

Quando um ataque violento a uma escola acontece, aumenta a probabilidade de ataques semelhantes se repetirem, o que é chamado por especialistas de “efeito contágio”.

Segundo Michele Prado, pesquisadora do Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP (Universidade de São Paulo), este fenômeno pode ajudar a explicar a proximidade entre os ataques desta quarta-feira (5/4) a uma creche em Blumenau (SC), e o atentado a uma escola de São Paulo, que deixou uma professora morta e quatro pessoas feridas ao fim de março.

E a especialista em radicalização alerta: novos ataques podem acontecer. “Estamos no que chamamos de ‘janela de efeito contágio’, quando há um potencial de imitadores”, diz Prado.

“Quando a mídia publica imagens do agressor ou cenas do atentado, tudo isso potencializa esse efeito contágio para outros que estão sendo radicalizados. Eles se sentem mais mobilizados a cometer atentados que já estavam planejando”, destacou.

Segundo a especialista, a literatura mostra que essa “janela” dura cerca de 13 ou 14 dias após um ataque acontecer e ganhar notoriedade.

Ameaças em São Luís

Talvez isso possa explicar alguns fatos no país, inclusive, na capital maranhense. O blog noticiou, nesta terça-feira (4), a decisão do juiz José Edílson Caridade Ribeiro que, respondendo pelo plantão de 1° grau em São Luís, autorizou, na noite de domingo, 2, que a escola Literato realize revistas em bolsas e mochilas dos seus alunos.

O estabelecimento de ensino procurou a Justiça após surgir em um dos banheiros a inscrição “MASSACRE – 04.04.2023” – dias depois uma segunda mensagem foi escrita, com os dizeres “O MASSACRE COMEÇOU”.

Hoje, menos de 24 horas após o noticiário do fato, uma nova ameaça foi registrada: um adolescente, de 17 anos, foi apreendido, suspeito de tentativa de massacre em uma escola pública da rede municipal de São Luís.

De acordo com informações do 1º Batalhão Escolar da Polícia Militar do Maranhão, o caso aconteceu na UEB Rubem Teixeira Goulart, que fica na região do Turu. Segundo informações levantadas pelos policiais, o adolescente teria ameaçado realizar um ataque na escola em questão na próxima semana.

Geralmente, as ameaças são acompanhadas por mensagens que têm em suas entrelinhas uma espécie de glamourização da violência. Têm em sua essência elementos que motivam ataques como os vistos nos Estados Unidos, a exemplo de Columbine, em 1999.

A polícia tem sido eficiente na maior parte dos casos e impedido que as ameaças se concretizem, mas é hora de investigar os fatores que levam a esse aumento de diversas formas de violência na escola.

Uma missão que envolve aspectos familiares, psicológicos, culturais, além dos relacionados à própria segurança pública, como a proliferação do discurso pró-armas.

A criminalidade na escola assume várias faces – tráfico, homicídio, assédio etc. Para combater um problema com causas multifacetadas, são necessárias soluções igualmente multidisciplinares que envolvam autoridades em saúde, educação e segurança. O aprendizado não prospera em um ambiente sem tranquilidade.

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